Há Património que vive na Alma

Desde que me conheço que gosto de tudo o que é antigo, original e autêntico...desde que penso sobre o assunto que julgo ter encontrado a resposta nas minhas origens.

Apesar de ser Lisboeta, alfacinha de gema, as minhas memórias de infância recolhem sempre ao Alentejo, aquele lugar para onde, quer de inverno ou verão, era "enviada" para passar as férias.

Recordo-me de ser "entregue" aos cuidados do Sr. motorista da "camionete da carreira", termo hoje substituído por rede expresso.

Levava comigo uma cesta com respasto que durasse para me manter alimentada e entretida naquela aventura que começava às 7h da manhã e durava até à hora do almoço.

Mas, do que mais me lembro era de ir com o nariz colado ao vidro, sim porque o lugar da janela tinha de ser sempre meu, deliciada com aquela viagem por entre planícies salpicadas de gado bravo, rebanhos ou varas ( de porcos ) e terras com casas pequenas e brancas de rodapés coloridos.

No destino lá se encontrava a família, a avó sorridente de lenço na cabeça, o avô sério de chapéu preto e o "carro de praça", que em Lisboa se chamava Táxi, para, por entre estradas ladeadas de oliveiras,

 nos transportar a casa.

Chegando a casa, e antes que me conseguissem levar para a mesa da refeição era tempo de correr ao quintal, sentir o cheiro da terra, saber se havia galos, galinhas e coelhos novos.

Ver se as árvores tinham frutos prontos a comer, cheirar a hortelã e o poejo.

Chamar os gatos e contá-los.

De seguida era tempo de recolher à mesa e, de olhos fechados, comer aquelas delícias que a minha avó tão bem e vagarosamente  cozinhava...

Migas com carne de alguidar.

Borrego assado ao uso da região.

"Brinhol" (fartura) com "cafei de cafetera", como dizia a minha avó. 

Elisabete Serol