A História e a Receita do Pudim do Abade de Priscos

A faltar menos de um mês para o Natal, dou por aberta a caça às iguarias da época...
Assim, vou partilhar convosco histórias de receitas, para vos ajudar a justificar o porquê de terem tanta coisa na mesa da consoada!
Aceito ideias, propostas e "ajustes"... (menos de contas! que eu não devo nada a ninguém).
Cultura Gastronómica. Património Cultural.



Pudim do Abade de Prisco.
Segundo Fortunado da Câmara, diplomado em “Gastronomia e Artes da Mesa”, a receita deste pudim está para a gastronomia como algumas canções estão para o universo da música, ou seja, com apenas uma obra pode imortalizar-se o artista.
Este pudim de ovos tem uma peculiaridade, leva 50 gramas de toucinho fresco para 15 gemas de ovo, calda de açúcar e vinho do Porto. Segue-se o caramelo a cobrir o interior da forma e uma hora em lume banho-maria.
Com esta mão cheia de singelos e económicos ingredientes o pároco, de uma aldeia minhota, conseguiu uma abençoada receita que se mantém viva por séculos na memória e no paladar.
Mas vamos lá à história… Manuel Joaquim Machado Rebelo, mais conhecido por Abade de Priscos, nascido em Vila verde e ordenado padre em 1861, terá servido a sua fé em diversas igrejas do concelho de Braga antes de se fixar em Priscos.
José Quitério, n’ O Livro de Bem Comer, descreve esta invulgar personagem como alguém que para além do exercício do sacerdócio se dedicava ao teatro amador e à culinária com excelência. Sendo, deste modo, sempre chamado para organizar os repastos mais importantes da região, fossem eles casamentos, jantares de gala ou banquetes reais.
O aparecimento do pudim deu-se num «rasgo de subtileza protagonizado pelo génio do abade, que é relatado pelo padre Américo Pinto numa série de crónicas publicadas no Diário do Minho de 1951.
Segundo fora contado ao padre Pinto por monsenhor Pereira Júnior, o abade havia recusado um convite que este último lhe tinha feito para publicar algumas das suas receitas. O responsável pela Associação Escolar Feminina de Braga precisava de angariar fundos para fazer crescer a obra social, por isso lembrou-se de lhe pedir algumas das suas reputadas fórmulas para editar em livro e vender. Mas havia um pequeno obstáculo ao pedido do monsenhor, que o abade explicou amavelmente dizendo-lhe que era «era impossível de lhe dar com as minhas receitas, os dedos das minhas mãos e o paladar da minha língua. A culinária é uma arte bela, mas depende muito do artista».
Porém, com ou sem intenção, para fazer prova do que acabara de dizer, lançou um desafio com o cozinheiro do Paço, saindo vencedor, mas dando a conhecer os ingredientes da receita.
A sua obra e excelência ficaram imortalizadas no conhecido e afamado «Pudim do Abade de Priscos».
Podem ler esta e muitas outras histórias n’ «Os Mistérios do Abade de Priscos e outras histórias curiosas e deliciosas da Gastronomia», de Fortunato da Câmara.


Imagem gentilmente cedida por «Pudim do Abade por Miguel Oliveira», vá, agora corram para Campo de Ourique, onde tem atelier aberto e faz Bolas de Berlim com recheio de Pudim do Abade, ou para o Mercado Time Out, onde tem boutique com horário prolongado, digam lá que eu não sou amiga!?!?

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