PATRIMÓNIO MUNDIAL EM LISBOA
Torre de Belém - A Torre de São Vicente
A construção da Torre de Belém, abaluartada, obedece a um critério racional de defesa do estuário do Tejo, implementado por D. João II, e englobado no plano mais vasto da reorganização geral das forças de terra e mar, plano esse continuado por D. Manuel I, e que viria a proporcionar os meios necessários, humanos e materiais, requeridos pela expansão promovida à escala planetária.
O projecto inicial abarcava um dispositivo integrado que compreendia, como meios fixos, a Fortaleza de Cascais, porventura atalaia e fortaleza avançada, a Torre Velha da margem sul e, em frente a esta, uma bateria, apenas fortificada, situada na zona onde mais tarde se viria a erguer a Torre de Belém.
Guarnecidas de grossas bombardas, o tiro cruzado constituía formidável obstáculo a todo e qualquer navio, corsário ou de nação beligerante, que tentasse forçar a Barra.
Devido a algumas limitações, como seja a sua grande dispersão, cadência reduzida, alcance insuficiente, construiu-se, por isso e por outros inconvenientes, uma nau de 1000 tonéis, cheia de numerosas peças que complementavam o dispositivo defensivo com uma base de fogo móvel.
E como talvez se julgasse ainda insuficiente a total protecção, também se construíram caravelas equipadas de grossas bombardas, executando tiro de ricochete, técnica inédita até então, e que estariam em posição, prontas a intervir caso necessário.
Este era um plano de grande eficiência, porquanto durante cerca de 30 a 40 anos não se registam queixas das populações, antes vítimas de constantes depredações por parte de corsários de origem norte-africana e norte-europeia.
Este plano inédito e pioneiro veio a ser seguido, mais tarde, em todo o território do Império Português de quinhentos, sobretudo no Oriente.
De salientar que a Torre tem uma configuração única.
Existindo grande similitude a nível estrutural com a Torre de Cascais, embora a profusa e bela decoração da de Belém a tornem única.
Desde o termo da sua edificação, a Torre de Belém foi artilhada para responder ao 1º plano de defesa da Barra do Tejo, iniciado por D. João II e concluído por D. Manuel I, cuja 1ª fase correspondeu à construção da Torre abaluartada de Cascais, desempenhando a função de vigia, foi continuado com a instalação da Torre Velha (da Caparica ou de S. Sebastião), na margem sul do Tejo, e, possivelmente, com uma bateria fronteira, descoberta, na margem norte.
Prevista pelo seu antecessor, D. Manuel I mandou edificar a Torre de Belém no local próximo à referida bateria, com possibilidades de executar tiro cruzado com a Torre Velha.
A Torre de Belém, tal como a fortificação de Cascais e a da Torre Velha, foi projectada tendo em linha de conta os novos condicionalismos técnicos e tácticos decorrentes do aparecimento da artilharia pirobalística.
Assim, as bombardeiras encontram-se a pouca altura do nível médio das águas.
São de forma rectangular, permitindo bornear as peças, isto é, apontá-las em direcção e possibilitar além do tiro directo o de ricochete.
A Torre serve de atalaia.
A muralha é rebaixada e de maior espessura, relativamente ao antigo método de fortificação, que remonta à tradição medieval.
Existe similitude entre a arquitectura interior do Baluarte e a dos nossos navios de guerra.
Face a tudo isto, a bateria inferior da Torre pode ser totalmente artilhada com material do tipo utilizado no séc. XVI nas fortalezas continentais e ultramarinas.
Mosteiro dos Jerónimos , anteriormente uma ermida sob invocação de Nossa Senhora da Estrela.
Com esta inovação propiciatória a ermida religava-se à navegação dos mares e à lembrança do episódio dos Reis Magos, eles também guiados a Belém, até Jesus, por uma miraculosa estrela.
Foi esta pequena ermida que o Infante D. Henrique mandou ampliar, dedicando-a a Santa Maria de Belém ou a Nossa senhora dos Reis, respeitando, portanto, a antiga invocação.
Gerida pelos freires da Ordem de Cristo, a ermida destinava-se a fins assistenciais e de apoio aos navegantes.
Porém, nos finais do século XV, era já obsoleta, sem prejuízo de ter sido nela que, em vésperas da partida da armada de Vasco da Gama, no dia 7 de Julho de 1497, este navegador rezou e fez vigília – o que lhe conferiu um estatuto ainda mais emblemático.
É assim que, em bom rigor, a história do Mosteiro de Santa Maria de Belém se inicia.
Em 1495, D. Manuel reque à Santa Sé autorização para fundar no lugar da velha Ermida da Ordem de Cristo um eremitério de frades Jerónimos, o que lhe é conferido por Bula papal de Alexandre VI datada de 1496.
Em 1501 ou 1502 (o ano não é certo), no dia 6 de Janeiro – Dia de Reis – é lançada a primeira pedra do novo mosteiro.
Logo em 1503 é feita nova doação aos frades jerónimos, desta feita da vintena das mercadorias vindas da Índia, o que significava um muito maior influxo de rendimentos para a obra.
Se é certo que a fundação do mosteiro antecede a viagem de Vasco da Gama, não nos restam dúvidas que a sua construção e programação é posterior àquela.
Em 1501 ou 1502 a intenção era já a de erguer uma grande casa monástica obedecendo a intuitos propagandísticos – e não já um pequeno e discreto ermitério, pelo que a sua construção se fica a dever ao trato da Índia e à comemoração deste feito pelo Estado.
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