Já felicitou a Torre de Belém? Este ano completa 500 anos.


A Torre de São Vicente de Belém, assim nomeada em homenagem ao santo patrono de Lisboa, é um dos monumentos com maior expressividade na cidade de Lisboa e reconhecimento internacional. Foi classificada como Monumento Nacional, pelo Decreto de 10-01-1907, DG n.º 14, de 17-01-1907. Em 1983, foi inscrita na Lista do Património Mundial da UNESCO, e eleita em 2007 como uma das 7 maravilhas do país.


Imagem de São Vicente 


Se nos dias de hoje, desempenha funções meramente pedagógicas, culturais e turísticas, outrora serviu para defender a cidade de Lisboa.

A construção da torre obedeceu a um critério racional de defesa do estuário do Rio Tejo, plano que foi implementado por D. João II e continuado por D. Manuel I, proporcionando condições necessárias à expansão ultramarina promovida à escala planetária.

O projecto inicial contava com um dispositivo integrado que compreendia, a Fortaleza de Cascais, a Torre Velha de S. Sebastião (da margem sul) e, em frente a esta, uma bateria, apenas fortificada, situada na zona onde mais tarde se viria a erguer a Torre de Belém.

Ficava completo o triângulo defensivo da barra, com vértices no Restelo, em Cascais e em Porto Brandão. Já em finais do século XVI, quando foram definitivamente fixados os nomes dos baluartes de São Sebastião da Caparica e Santo António de Cascais, a defesa marítima da capital ficaria simbolicamente assegurada pelos três santos lisboetas por excelência.

Guarnecidas de grossas bombardas, o tiro cruzado constituía formidável obstáculo a todo e qualquer navio, corsário ou de nação beligerante, que tentasse forçar a Barra. Este pioneiro e inédito plano terá sido seguido, mais tarde, em todo o território do Império Português de quinhentos, sobretudo no Oriente.
O arquitecto responsável por tão singular construção foi Francisco de Arruda. Recém-chegado do Norte de África, onde a sua considerável experiência fora aplicada nas obras de várias praças-fortes, Arruda foi capaz de criar uma fortaleza moderna e digna da capital de vocação universal que era a efervescente Lisboa manuelina.


A estrutura é constituída pela torre de habitação acastelada, de tradição medieval, e pela fortificação abaluartada, de concepção absolutamente moderna.



A função militar está reservada ao baluarte, que avança sobre as águas em três pisos (andar subterrâneo, nave e terraço).

O baluarte, ou plataforma de artilharia avançada, tem desenho poligonal e cobre ampla área de fogo. Está adaptado à primeira utilização de pirobalística em Portugal, com 16 bombardeiras (ou canhoeiras) direccionáveis e situadas pouco acima do nível médio das águas, possibilitando a prática do tiro de ricochete.

A torre, de quatro pisos abobadados, é um eco assumido das tradicionais torres de menagem. As suas salas (sala do Governador, Sala dos Reis, Sala das Audiências, e capela no último piso, abaixo do terraço) são reservadas a funções civis e cultuais.


Porém, os elementos mais marcantes da construção serão sem dúvida os formais e decorativos.



A evocação da função defensiva domina o conjunto, conjugada com motivos de inspiração fantástica e uma simbólica influência magrebina e orientalizante.

O terraço do baluarte, constituindo uma segunda linha de fogo, é cercado por ameias guarnecidas de brasões com a cruz da ordem de Cristo, "parecendo a passagem à pedra dos escudos da amurada de um convés" .

A ideia repete-se na poética de elementos como as bombardeiras rasantes, "a lembrar escotilhas", ou os grossos calabres marítimos que fazem parte da minuciosa ornamentação manuelina.


Entre os restantes motivos, de nítido cariz tardo-gótico, destaca-se o famoso rinoceronte esculpido na base de uma guarita, certamente desenhado a partir daquele que desembarcou em Lisboa vindo da Índia em 1515, junto das obras da torre, e que tanto interesse suscitou na Europa.



Ao longo dos tempos foram efectuadas diversas intervenções no monumento, que finalizaram com restauros oitocentistas nas ameadas, no varandim do baluarte, no nicho da Virgem virado para o rio, e no claustrim onde assenta.



Cronologia

1514 - D. Manuel manda construir a Torre de Belém, no local onde D. João II pretendera erguer um forte para defesa do porto e sob projectos de Garcia de Resende.
1580 - Serve de Fortaleza até esta data. Após poucas horas de combate a Torre entrega-se ao Duque de Alba, cujas forças representavam o domínio espanhol. As masmorras passam a servir de prisão de Estado. Nessa altura a Torre foi aumentada para albergar mais soldados, o que originou importantes alterações na parte superior do Baluarte.
1640- As masmorras do baluarte continuam a servir de prisão política aos condenados de elevada categoria social.
1808/14 - Durante as Invasões francesas sofreu algumas alterações para poder comportar diversas instalações militares.
1845 - Foi restaurada durante o reinado de D. Maria II, em consequência de protestos de Almeida Garrett e esforços do Duque da Terceira, então ministro de Guerra, tendo as obras ficado sob direcção do Eng. Militar António de Azevedo e Cunha. Novos elementos esculpidos, tais como o nicho com a imagem de N. S. das Uvas, foram acrescentados à estrutura original.

1940 - É entregue ao Ministério das Finanças. Procede - se à demolição dos "Quartéis", situados sobre a Bateria e constrói-se o claustro interior, os merlões em forma de escudo e os piramidais, as cúpulas de gomos das guaritas, o pano de muro protegendo a entrada bem assim como outras obras. Durante o governo de Salazar foram realizadas alterações nas margens do rio Tejo, o que se repercutiu na área envolvente da Torre de Belém.

1983 - São feitas obras de adaptação para a XVII Exposição de Arte, Ciência e Cultura. Coloca-se uma cúpula acrílica sobre o claustrim e cria-se um lago artificial em volta da Torre, para que permanecesse dentro de água.



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