LOJAS HISTÓRICAS E TRADICIONAIS DE LISBOA I


A utilização dos pisos térreos de edifícios habitacionais como espaço comerciais e casas de repasto remonta à Antiguidade. 



Contudo, é a partir da sociedade burguesa que se regista a transformação de muitos dos pisos térreos, cujos simples vãos de porta e janela vão dar origem a amplas montras expositivas, por vezes com elaboradas devantures de madeira ou ferro fundido trabalhados. 


As soluções técnicas e decorativas no novo material, ou com a tradicional madeira, vão alterar profundamente a ambiência urbana de uma sociedade que se quer dar a ver. Mesmo os quarteirões mais populares vão conhecer o rasgar de montras e vitrinas.


 Rua Augusta - (1917) - Fotógrafo não identificado ( A "LOJA DAS MEIAS" na RUA AUGUSTA quase no seu primitivo aspecto) in O BLOG DA RUA
Rua Augusta - (1919) Foto de Joshua Benoliel (A "Nova Sapataria da Moda" na "RUA AUGUSTA" esquina com a "Rua de S. Nicolau" in AFML

Rua Augusta, 195 e 197 - (início do século XX) Foto de Joshua Benoliel (A "Camisaria PITTA" na "RUA AUGUSTA" no início do século XX) in AFML


Muitas dessas montras e interiores de estabelecimentos comerciais e outros, caso de farmácias e similares de hotelaria, forma já sacrificadas em nome do progresso. Por isso há que refrear esta tendência, impedindo a destruição destes espaços únicos.
Futuras intervenções contemporâneas não ficam arredadas de figurar nos estabelecimentos como marca do tempo presente. Tal como o preconizado para a construção nova, é tudo uma questão de saber integrar o espírito do lugar. Isto é, eventuais reformulações de pisos térreos deverão ser de continuidade na diferença. Esta subtileza obrigará certamente a um esforço conceptual mais atento, e por isso mesmo mais fecundo.
Exemplos de um passado recente há que parecerão demasiado impositivos ou, até, excessivos, mas que valerá a pena preservar. Como não se pode continuar a avaliar este tipo de intervenções pela subjectividade do gosto, há, de facto, que aferir da sua qualidade ímpar. 


Conservação e Reabilitação Urbana, Uma Nova Cultura de Cidade, Edição da Direcção Municipal de Conservação e Reabilitação Urbana, Pelouro do Licenciamento Urbanístico e Reabilitação Urbana, CML, Lisboa, 2005, p.138.

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