LOJAS HISTÓRICAS E TRADICIONAIS DE LISBOA II - O augurar de algumas das ideias, de Manuel da Maia, conferem valor superior à Baixa Pombalina




Na Baixa de Lisboa, o piso térreo dos prédios foi ao longo dos tempos sofrendo alterações, com o objectivo de adaptação às exigências comerciais, não só no interior como na fachada. 

No início do século XX assiste-se à instalação de molduras de montra em madeira, em cantaria lavrada ou em ferro, que revestem o plano da parede. 


Na segunda metade do século XX, com o recurso ao betão armado, as paredes exteriores portantes fora parcialmente ou totalmente demolidas para o alargamento das montras, destruindo o sistema pombalino que assentava nas características das molduras dos vãos.

Quanto ao tipo de ocupação dos prédios da Baixa, “a integração das profissões não se limita à distribuição regular de ofícios em lojas. 



Ela prolonga-se e altura e insinua-se nos andares dos edifícios. 

O chamado prédio pombalino de rendimento não chegará nunca a ter a utilização para que fora previsto por Manuel da Maia, a de albergue por excelência das gentes endinheiradas: comércio nas lojas, habitação distinta nos andares […]. Nas lojas, nos andares e até nas águas furtadas agregam-se núcleos de actividades solitárias”.





Actualmente, constata-se a existência de actividades tradicionais que permanecem lado a lado com actividades recentes, comércio lado a lado com habitação, oficinas artesanais e comércio de luxo, e é justamente essa coexistência a maior valia da Baixa.

Como actividades artesanais com porta para a rua, há marcenarias de fabricação e restauro de móveis, barbearias, drogarias de venda avulso e engraxadorias localizadas em átrios ou vãos de escadas, gravadores sobre metal e, nos andares, uma diversidade de actividades que surpreendem o observador mais atento.



Quanto às actividades comerciais, as ourivesarias e joalharias mantêm em muitos casos as características antigas que lhes conferem uma dignidade ímpar.

É neste sentido que, na Baixa de hoje, apesar de forte presença dos sectores da banca e seguros, que preferencialmente ocupam quarteirões, e do peso da administração pública, é ainda possível encontrar áreas de especialização muito marcadas, como retrosaria, sirgaria e passamanaria de seda, ourivesaria, tecidos, lãs, reflectindo a afectação original que lhes foi destinada pelo sistema de arruamentos da baixa constante no Alvará de 5 de Novembro de 1760.



Também a nível dos pisos superiores deparamo-nos com algumas actividades de outrora que curiosamente ainda persistem, como oficina de calçado, oficina de malas, atelier de joalharia, costureiras e alfaiates, casas de penhores, revendas de botões e linhas, e ferramentas e peças para relojoeiros.


Por outro lado, são também actividades especializadas que sobrevivem pela mão-de-obra de quem gere estas actividades, prevendo-se a curto prazo a sua extinção por falta de quem lhe dê continuidade, como é o caso das oficinas de relojoaria e de ourives, alfaiatarias, ateliers de costura, oficinas de calçado e carpintaria.



O peso do sector da restauração e similares de hotelaria é também importante na Baixa, constatando-se ser na Rua dos Correeiros e na Rua dos Sapateiros que há o maior número de restaurantes, sem que tal facto implique a alteração das características dos vãos de fachada.



Em conclusão, a Baixa tem potencialidades que advêm da permanência de actividades tradicionais que já não existem noutras zonas da cidade, e da possibilidade de reabilitação dos edifícios actualmente degradados e parcialmente devolutos mas que mantêm ainda elementos de qualidade arquitectónica e construtiva indiscutível.








Práticas Autárquicas de Conservação e Reabilitação Urbana, Edição da Direcção Municipal de Conservação e Reabilitação Urbana, Pelouro do Licenciamento Urbanístico e Reabilitação Urbana – CML, Lisboa, 2005, pp. 58/9.

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