À NOITE NO MUSEU ... EM PORTUGAL



O Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas assenta os seus mais profundos alicerces no Renascimento, quando alguém - muito provavelmente Francisco d’Ollanda - decidiu reunir em torno da antiga Ermida de São Miguel um apreciável conjunto de monumentos epigráficos encontrados por entre as ruínas romanas ainda então visíveis no local.

Mais recentemente, em 1955, a Câmara Municipal de Sintra tentou uma experiência inovadora para o seu tempo: a construção, em plena zona rural, de um pequeno núcleo museológico que permitisse voltar a reunir, em Odrinhas, as antiguidades entretanto dispersas, além de outras mais recentemente detectadas.









Sarcófagos etruscos, monumentos romanos, lintéis visigóticos, túmulos medievais e outras lápides epigrafadas perfazem, no seu todo, aquilo que no Museu designamos como “O Livro de Pedra”. 



Mas “O Livro de Pedra” não esgota o que haverá para ver quando, mais tarde, todas as colecções estiverem expostas. Os materiais ora conservados nas reservas do Museu incluem numerosissímos testemunhos cerâmicos, de produção regional ou de importação, cobrindo toda a História dos povos que se fixaram na região de Sintra durante os últimos seis mil anos; diversificada utensilagem lítica, cujos inícios remontam a épocas muito anteriores, mas que se prolonga e complexifica ao longo dos séculos, dos milénios; artefactos metálicos, desde objectos do quotidiano às moedas cunhadas por reis, imperadores e califas; frágeis e variegados vidros, que o tempo irisou em dourados esplendores; para além de materiais orgânicos até hoje conservados, não só manufacturas em osso, marfim ou madeira, mas também - não esqueçamos - os próprios restos, cremados ou inumados, dos nossos antepassados.






Dispõe de Biblioteca especializada - mas inteiramente pública -, também o Auditório nas suas diferentes potencialidades, também as Exposições Temporárias, a Livraria, a “Ágora” em torno da qual se distribuem os vários edifícios do Museu, a própria escolha da linguagem arquitectónica - que talvez possa ser legitimamente designada como assumida expressão de um Classicismo “despojado” -, sem esquecer a Ermida de São Miguel de Odrinhas - velha como a Nacionalidade - e as ruínas da villa romana epónima, militam, no seu conjunto e como realidade indivisível, para dar voz e coerência aos princípios que nortearam a concepção deste espaço. Para animarem - de anima, “alma”, entenda-se... - o seu genius loci.



O Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas, um projecto arrojado? Não! Uma realidade arrojada! Concebida à proporção da riqueza patrimonial de Sintra e dos parâmetros internacionais por onde forçosamente se terão de pautar todas as iniciativas congéneres que pretendam validamente ultrapassar as fronteiras do localismo e das gerações imediatas.

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